terça-feira, 21 de agosto de 2012

Curtir a vida

 "A vida é curta, rápida e dolorosa demais. Uma das necessidades que tenho é relacionar-me com as pessoas que admiro. conhecê-las e criar uma relação de igual para igual com elas".
 
O pensamento é do cineasta português Miguel Gonçalves Mendes, 33 anos, que passou quatro anos ao  lado do escritor José Saramago, morto em 2010, e de Pilar del Río, sua mulher. Desse encontro nasceu o documentário  José e Pilar , uma obra delicada, sensível e amarga que acabei de ver em vídeo. A frase acima está na Revista Cultura, em uma entrevista dada pelo cineasta no momento em que lança no Brasil o livro José e Pilar: conversas inéditas, um apanhado sobre os bate-papos e as centenas de horas gravadas que ficaram fora do filme.
 
Se eu tivesse tido a sabedoria de Miguel Gonçalves Mendes, que teve a sorte de escolher uma profissão que lhe deu oportunidade de ter grandes amizades. Eu não tive esse privilégio pelas cirscuntâncias profissionais (a tal da imparcialidade e distanciamento brechtiano que se exigia de nós - sequer fui filiado a um partido político - e que as novas gerações enterraram) e por ter colocado o trabalho, sempre, acima de qualquer compromisso particular desde os 17 anos, quando comecei, como revisor, a trabalhar em um jornal em São Paulo.
 
Curtir a vida. Melhor seria com quem admiramos.
 
PS: Nunca fui filiado a partido político, mas confesso que tive uma enorme e incontrolável paixão política, que nasceu em 1978, em São Bernardo do Campo, e morreu em 2006, infelizmente.  

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Aguardando o resultado

Retorno ao blog depois de algum tempo. Não tinha nada a dizer, mesmo, após o término da radioterapia.

Ainda aguardo o resultado dos efeitos da rádio no câncer na corda vocal e a espera muitas vezes me angustia, quando me lembro que estou com a doença.

Não fico pensando nela o dia inteiro, mas quando a voz falha ou fica mais fraca, lá vem o danadinho encher a minha cabeça. Será que está tudo bem? O que vai acontecer comigo?

Preciso ficar mais otimista já que o tratamento foi melhor que o esperado. Logo, espero que o início das revisões seja marcado pelos médicos. E aguardar os cinco anos para dizer um tchau definitivo à doença.

Até lá, continuarei trabalhando, agora com outro ritmo e muito mais disposição, mas ainda não estou como antes, sei disso.

Mas aquela fome continua.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Minha vida


Acordei, hoje, às 9h, com um sentimento muito estranho e uma disposição que não sentia há muitos anos: a certeza de que havia renascido.

Pode parecer ainda mais estranho, mas o sentimento ocorreu no momento em que, na noite anterior, passei pela última (33ª) sessão de radioterapia, uma alta desejada desde a primeira semana do tratamento contra o câncer na corda vocal, que foi a coisa mais assustadora e reveladora de minha vida.

Mais estranho, ainda, foi a disposição que tomou conta de mim durante a manhã e que ainda toma conta de meu corpo e alma neste momento em que escrevo.

Uma felicidade movida à energia, uma alegria imensa que me faz aguardar com paciência e resignação o relatório final do dr. Jonatahn Melo sobre o meu estado de saúde para ser encaminhado ao oncologista e cirurgião de cabeça e tórax Bartolomeu Melo, a quem caberá as revisões periódicas.

Estou tranquilo, muito feliz e surpreendido com o passar rápido das sessões de radioterapia. Difícil foi me despedir (e agradecer, claro) aos médicos, aos radiologistas, aos técnicos, enfermeiros, pessoal da limpeza e as atendentes do setor de Radioterapia do Real Hospital Português.

Todos estiveram a meu lado (e junto de pelo menos 160 pacientes diariamente). A eles, atribuo grande parte da recuperação e do combate ao meu câncer, pelas palavras trocadas, pelos abraços, apertos de mão e pela generosidade e profissionalismo com que me trataram e tratam os pacientes do RHP.

Acho até que trocarei a data de meu aniversário: passarei de 1º de abril para 1º de agosto (serei Áries e Leão) e, em 2013, espero festejar o primeiro ano do resto de minha vida.